A cruz dos três soldados
Aconteceu há muitos anos atrás um fato doloroso que até hoje mexe com a sensibilidade de todos os dorenses pela maneira bárbara, grotesca e anti-cristã que o envolveu. A data precisa não se sabe, mas somente quando se deu: em 1905.
Uma quadrilha de ladrões planejou um assalto na fazenda do Sr. João Morais Pessoa, aqui no município. Era comandante do Destacamento Policial o Anspeçada Nicanor Bittencourt, pessoa de maus hábitos, temperamental e lá não muito certo das suas faculdades mentais. Os soldados de então eram em número reduzido. A conspiração criminosa foi toda ela manipulada pelo Anspeçada, que se comunicava com a quadrilha planejando com minúcias o assalto. A cadeia local se sediava logo abaixo da antiga Prefeitura, na atual rua Capitão Neves, sendo carcereiro o Sr. José Borges de Figueiredo, que não sabia do plano diabólico engendrado. Temendo Anspeçada que os soldados pudessem filtrar na cidade a invasão da fazenda mencionada, meteu-os nas grades, em número de três: Saturnino, Felipe e José Pereira, pois ficara sabendo que, talvez, Saturnino houvesse confidenciado para alguém alguma coisa de estranho.
Como estava próxima a data da incursão criminosa, o Anspeçada foi à cela e notificou os três soldados de que iria levá-los a Três Pontas para efeito de instruções do comando a que Boa Esperança pertencia. Ao que, já noite avançada, os três soldados, algemados, tiveram a cela aberta, porque o comandante acordou o carcereiro, no seu hotel contíguo, para abrir a enxovia, forçado para tanto.
Ao saírem da cadeia, Saturnino dissera para os dois outros: “Hoje, nós vamos morrer!” Ao que o Anspeçada contestou dizendo que “tudo não passava de um ato de rotina”.
Já era madrugada quando os soldados, caminhando a pé forão assassinados perto das Cardosas, a uns 5 km da cidade.
Eis aí a história dolorosa do martírio desses três soldados inocentes e leais militares, que hoje gozam, no consenso da população, a fama da santidade, pelos muitos milagres e favores alcançados junto a Deus, por sua intercessão. Consta nas crônicas da época que o sargento Nicanor Bittencourt teve uma morte horrível, acometido de lepra pouco tempo depois de seu crime.