
A Farmácia Mais Antiga da Terra
Foto ilustrativa: Não faz parte da farmácia mais antiga da terra.
Em Florença, na Itália, a farmácia mais antiga do mundo guarda fórmulas secretas que frades dominicanos criaram na Idade Média.
Muito antes do Renascimento italiano, movimento cultural do século 15, o cheiro das flores e ervas de Florença já era famoso em outros mares – graças a um monastério, onde um grupo de frades alquimistas começou as primeiras experiências, ainda na Idade Média.
As portas da Santa Maria Novella, a mais antiga farmácia do mundo, se abrem para a público religiosamente desde 1612. Mas, lá dentro, os dominicanos se aventuravam a curar doentes com aromas já 1221.
A beleza do palácio histórico atrai turistas de toda parte. Entre os objetos de época, estão os termômetros feitos a partir de desenhos de Leonardo da Vinci, assim como a garrafa fiorentina de decantação.
Muita gente vai procurar uma grande invenção: o primeiro perfume suave do mundo, que nasceu naquelas salas. Bárbara, uma das farmacêuticas, conta que em 1500, quando Catarina de Médici estava para se casar com o rei da Franca, Henrique II, os frades dominicanos criaram um perfume para a noite de núpcias. “Um perfume diluído, que mais tarde foi levado para a cidade alemã de Colônia por um italiano e lá ganhou o nome de água-de-colônia”, explica.
A primeira água-de-colônia do mundo se chamava Água da Rainha. A fórmula mistura bergamota da Calábria, limão da Sicília, flores brancas como gardênia e algumas especiarias como alecrim e cravo-da-índia. A água-de-colônia tem um perfume suave, cítrico e que refresca a pele.
Uma das donas da farmácia, Benedetta, diz que os perfumes com essência natural dão um cheiro diferente a cada tipo de pele. As fórmulas foram deixadas pelos frades em manuscritos que estão fechados em caixa-forte e poucos conhecem.
Em uma sala que já foi freqüentada pelo poeta Dante Aleghieri estão as relíquias da antiga perfumaria: os vasos onde eram vendidas as essências e o rosto dos dominicanos criadores das fórmulas que sobreviveram aos séculos.
Uma receita em especial não foi invenção dos frades, mas uma apropriação. Em 1400, Florença estava contaminada pela peste. Algumas pessoas conseguiram ficar imunes à doença.
Eram sete ladrões, justamente os que roubavam as jóias dos corpos das vítimas da peste, que não se contaminaram porque passaram na pele um vinagre. O mais interessante é que cada um dos sete ladrões conhecia apenas um dos sete ingredientes da fórmula. Quando envelheceram, os ladrões se confessaram com os frades dominicanos, que, mais tarde, começaram a comercializar o remédio.
Os pecados revelados na extrema-unção ainda são vendidos. Mas hoje o vinagre é indicado apenas para ser inalado em caso de desmaio e pressão baixa.
Na sala das ervas, a água anti-histeria, vendida com o nome de Santa Maria Novella, é um dos produtos mais originais das prateleiras.
Em 1330, os dominicanos descobriram que a uva ursina tinha poder diurético e podia combater o cálculo renal. Com a uva, os religiosos curaram um rico mercador de Florença e ganharam de presente uma capela. Os afrescos de 1300 são atribuídos a Mariotto di Nardo, aluno de Giotto, mestre pré-renascentista.
A brasileira Debora Cutolo, que há três anos trabalha na farmácia, já é reconhecida por um cheiro exótico que não a abandona. “Passo horas por dia com esse perfume. Quando passo na rua as pessoas perguntam se esse perfume é da Santa Maria Novella. Todo mundo reconhece”, conta ela.
Fonte: Programa Fantástico 30/10/2005 – Rede Globo